Dez descobertas científicas de 2009 com selo português

Das perspectivas de tratamento de doenças como o cancro à descoberta de novas espécies
Investigadores portugueses, dentro ou fora de portas, marcaram pontos em 2009. Alguns estiveram mesmo na base de descobertas de grande impacto internacional.

A detecção de ADN com uma vulgar impressora, a descodificação do genoma do cancro da mama ou a descoberta de novos planetas são alguns dos avanços envolvendo cientistas nacionais que marcaram o ano que terminou.
Descodificador do genoma do cancro da mama, em português

Sensor de ADN barato e amigo do ambiente
Já do mesmo "forno" do célebre transístor de papel português saiu, em 2009, um sensor de ADN barato e amigo do ambiente. Pela primeira vez foi estabelecido um método de detecção de ADN usando uma vulgar impressora de jacto de tinta, com recurso a materiais e tecnologia de baixo custo. O novo sensor, desenvolvido por uma equipa conjunta dos departamentos de Ciência dos Materiais e Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, foi publicado pela revista Biosensors and Bioelectronics. Um trabalho feito por cientistas nacionais e em Portugal. A aplicação prática deste sensor consiste na sua inclusão num sistema de diagnóstico "que pode prevenir, fazer um rastreio de uma forma extremamente simples, rápida e barata, e detectar se as pessoas estão doentes ou não", explicou Elvira Fortunato, especialista em microelectrónica.

Portugal tem o maior conjunto de fósseis de trilobites do mundo
O País entrou, em 2009, no mapa da paleontologia com o maior e mais completo conjunto de fósseis de trilobites do mundo. Foi descoberto na região de Arouca, perto de Aveiro, por uma equipa de paleontólogos espanhóis e portugueses. Entre os fósseis encontrados estão também os maiores exemplares conhecidos. Isto porque até agora, os restos destes seres pré-históricos, que dominaram os mares até há 250 milhões de anos, não ultrapassavam os 10 centímetros de comprimento, mas os de Arouca chegam aos 30. Alguns restos mostram que os exemplares podiam atingir mesmo os 90 centímetros. A descoberta foi publicada na revista Geology.

... e baptizou nova espécie de dinossauro
Mas no das descobertas pré-históricas, o País foi mais além, baptizando um novo dinossauro o Miragaia longicollum. A nova espécie foi descoberta na Lourinhã pela equipa do paleontólogo Octávio Mateus, do museu daquela localidade e da Universidade Nova de Lisboa. Este é um novo estegossauro que os seus descobridores baptizaram de Miragaia longicollum, um nome cheio de significados. Entre eles, o de pescoço comprido, uma das imagens de marca da espécie. O artigo descrevendo o novo dinossauro, que viveu no Jurássico Superior (há 150 milhões de anos), publicado na Proceedings of the Royal Society, pela equipa liderada por Octávio Mateus, culminou um trabalho de dez anos.

32 novos planetas com a marca de um português
Em 2009 foi anunciada a descoberta de 32 planetas fora do sistema solar. O responsável pela divulgação, que aconteceu no Porto, foi Nuno Cardoso Santos, investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e membro da equipa que fez a descoberta e que fez com que a barreira dos 400 planetas extra-solares "tenha sido ultrapassada". Os planetas encontrados são "gigantes", como explicou o cientista: "A maioria é semelhante a Júpiter", explicou o investigador português.

Trabalham em Portugal os melhores em cardiotocografia
João Bernardes e Diogo Ayres de Campos, obstetras, professores e investigadores do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, foram considerados, respectivamente, o primeiro e terceiro melhores inves- tigadores do mundo em cardiotocografia pela BioMedExperts. A cardiotocografia é a monitorização contínua da frequência cardíaca do feto e das contracções uterinas da grávida.

Descoberta nova espécie...
Carlos Afonso, um biólogo do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve descobriu, durante um mergulho, uma nova espécie de búzio. O minúsculo Fusinus albacarinoides foi encontrado durante um trabalho de campo em 2009 e que tinha como objectivo traçar um mapa da biodiversidade da costa algarvia. Foi a primeira vez que este gastrópode foi identificado e registado a nível mundial. "Começámos a descobrir indivíduos desta nova espécie a partir de 2002 e 2003, entre as zonas marítimas de Albufeira e Armação de Pêra", disse Carlos Afonso. A nova espécie tem cerca de vinte milímetros de comprimento e oito de diâmetro. E embora o género Fusinus seja bastante comum e exista um pouco por todo o mundo, a nova espécie foi, para já, apenas identificada na costa algarvia, diz a equipa de biólogos da Universidade do Algarve. "Acreditamos que é endémica da nossa costa", frisou o biólogo que, apesar de ter 36 anos, já não é um novato na matéria de descobertas.

Ajudar a controlar as células imunitárias
Ainda no campo da saúde, outra descoberta portuguesa de 2009 correu mundo. Uma equipa de investigadores da Unidade de Imunologia Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa descobriu como se podem identificar e controlar células imunitárias. O objectivo é conseguir levar os linfócitos T a actuar apenas contra as infecções e para que não promovam doenças auto-imunes como a diabetes. Tratam-se de células responsáveis pela defesa do organismo contra infecções ou pelo desenvolvimento de doenças auto-imunes. A descoberta feita vem com o objectivo de controlar os linfócitos T para actuarem contra infecções e não para promoverem doenças como a diabetes. O estudo, realizado em Portugal por especialistas nacionais em colaboração com equipas estrangeiras, foi publicado na edição online da prestigiada revista científica Nature Immunology. "Descobrimos uma maneira de diferenciar duas populações de linfócitos T que produzem factores com actividades biológicas distintas", disse o responsável pela equipa, Bruno Silva Santos.

Novo tratamento para o Alzheimer e Parkinson
Investigadores portugueses lideram um consórcio europeu de cinco parceiros criado para produzir um novo medicamento com propriedades analgésicas e que poderá ser usado na terapia das doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. O projecto para desenvolver um novo produto arrancou no ano passado e deverá durar quatro anos. Miguel Castanho, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, explicou que o novo medicamento resultou da transformação de uma molécula isolada do cérebro de mamíferos por cientistas japoneses nos anos 70, mas posteriormente abandonada por falta de interesse farmacológico. O que este grupo de investigadores conseguiu foi "transformar a molécula de modo a poder ser introduzida na corrente sanguínea, passando daí ao cérebro, mantendo as suas propriedades analgésicas e de protecção contra as doenças neurodegenerativas".

Telhas 'bonitas' e que alimentam o resto da casa
E quem pensa nas telhas de uma qualquer casa assume apenas o papel de proteger a casa do clima, engana-se. Um grupo de investigadores das universidades do Minho e da Nova de Lisboa apostam no contrário e estão a desenvolver um projecto de construção de telhas, mas com capacidade de produção de energia fotovoltaica. Um dia destes, todo o telhado de uma habitação será o seu principal ponto de fornecimento de energia, garantem os especialistas. Este projecto, na fase de protótipo, mas já a despertar interesse de várias empresas, é ainda um segredo bem guardado. E é aqui que "entra" um outro projecto Solar Tiles. Esta tecnologia, tem sido alvo de grande interesse por ser gerador de "uma energia eléctri-ca amiga do ambiente e econo-micamente atractiva". Mas apesar da utilidade, a sua aparência inestética pode ser um entrave à comercialização. Para isso tem vindo a criar-se um novo conceito, Building Integrated Photovoltaics, que consiste em aplicar estes equipamentos como elementos estruturantes dos edifícios, substituindo os materiais convencionais.
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